Cart 0

 

PRADARIAS MARINHAS

Florestas no Fundo do Mar

 

A Ocean Alive responde ao problema da degradação das pradarias marinhas do estuário do Sado. O decréscimo acentuado deste habitat levou à escassez da vida marinha contribuindo para o desemprego e desvalorização da comunidade piscatória, nomeadamente das mulheres pescadoras e para o declínio da população residente de golfinhos.

 
OceanAlive_footer4.jpg
 

O que são

As pradarias marinhas são um habitat constituído por plantas aquáticas – as ervas marinhas - que formam um complexo sistema de rizomas em zonas costeiras, lagoas, rias e estuários.

As ervas marinhas são plantas vasculares. Ao contrário das algas, têm raízes, caule e folhas, e têm a capacidade de produzir flores, frutos e sementes, pertencendo ao grupo das “plantas com flor” (angiospérmicas). Evoluíram a partir de ancestrais terrestres há cerca de 100 milhões de anos.

Geralmente ocupam apenas águas pouco profundas. Dependendo das características de cada espécie, ocupam zonas intertidais (que ficam emersas em marés baixas) e subtidais (sempre submersas). Como qualquer planta, apenas sobrevivem até profundidades com luz suficiente para realizar a fotossíntese, atingindo o máximo de ~70 metros em águas cristalinas e apenas ~10 metros no estuário do Sado, zona de transição entre o rio e o mar onde a água é naturalmente mais turva.

OA_pradairas-marinhas-tipos.jpg

1. Zostera marina ©C.A.M.Lindman | 2. Zostera noltei ©Walter Müller | 3. Cymodocea nodosa ©Nuno Farinha

 
 
 

Onde existem

As pradarias marinhas podem ser encontradas em todos os continentes, com exceção da Antártica. Poderá consultar um mapa mundial aqui.

Em Portugal, as pradarias de ervas marinhas estão presentes na Ria de Aveiro, estuário do Mondego, Lagoa de Óbidos, estuários do Tejo, do Sado e do Mira, Ria de Alvor, Arade, Ria Formosa e estuário do Guadiana, baías abrigadas na costa da Arrábida e Algarve, e Madeira. A Ria Formosa é onde está registada a maior área de cobertura. Uma estimativa aponta para uma área de 1690 ha de pradarias(1), mas o país carece de uma avaliação atualizada. Os únicos locais onde está registada a ocorrência simultânea das 3 espécies presentes na costa portuguesa – Zostera marina, Zostera noltei e Cymodocea nodosa - são o estuário do Sado e a Ria Formosa.

 
OA_pradairas-marinhas-location-3-pt.jpg

©Nuno Farinha / Fonte: Cunha et al 2011

 

 

As pradarias marinhas contribuem para a nossa sobrevivência e bem-estar

 

 

As pradarias marinhas oferecem-nos diversos serviços de ecossistema, um conjunto de processos naturais que, direta ou indiretamente, contribuem para o bem-estar do ser humano.

 
OceanAlive_footer3.jpg

Pescas

Suportam as pescas e são o habitat berçário de espécies comerciais (peixes, crustáceos e bivalves)

OceanAlive_footer2.jpg

Regulação do clima

Sequestram e armazenam grandes quantidades de carbono na sua biomassa e sedimento, ajudando a mitigar as alterações climáticas

OceanAlive_footer3.jpg

Controlo de doenças

Reduzem a exposição a agentes patogénicos que poderão afetar humanos, peixes e corais

Biodiversidade

São hotspots de biodiversidade marinha, incluindo espécies protegidas e carismáticas como cavalos-marinhos, tartarugas, dugongos e tubarões.

OceanAlive_footer3.jpg

Proteção costeira

Previnem a erosão costeira e protegem contra tempestades e inundações

OI000126-web.jpg
OI000055-web.jpg
OceanAlive_footer1.jpg

Filtração da água

São filtros naturais, retendo os sedimentos e retirando os nutrientes em excesso da água

OceanAlive_footer3.jpg

Turismo

Fornecem serviços culturais que dão identidade às comunidades e são oportunidade de atividades recreativas (observação de aves, mergulho, pesca)


 
 

Berçários de vida marinha, que suportam a biodiversidade e a economia da pesca e das comunidades costeiras

São zonas de reprodução muito importantes para peixes e invertebrados, desde os ovos aos estádios larvares e juvenis. São também zonas privilegiadas para alimentação, já que são ricas em plâncton, pequenos invertebrados e algas que crescem nas folhas das ervas marinhas.

Há ~100 vezes mais animais abrigados e a alimentar-se numa pradaria de ervas marinhas, que nas zonas arenosas adjacentes sem ervas.

A nível mundial, as pradarias marinhas suportam 1/5 das 25 pescarias mais importantes(2).

No estuário do Sado, as pradarias suportam espécies emblemáticas com valor económico para a pesca – o choco, a dourada, o robalo, o linguado – e espécies carismáticas, com grande interesse para a conservação e turismo, como o cavalo-marinho e a população residente de roazes do Sado.

 
©Nuno Farinha

©Nuno Farinha

 

1. Cavalo-marinho-de-focinho-longo (Hippocampus guttulatus)
2. Erva-marinha (Cymodocea nodosa)
3. Santola (Maja brachydactyla)

4. Tainha-fataça (Liza ramada)
5. Garrento (Liza aurata)
6. Choco (Sepia officinalis)
7. Mexilhão (Mytilus edulis)
8. Ovo de raia

9. Burrié (Gibulla sp.)
10. Lapa (Patella sp.)
11. Cenoura-do-mar (Veretillum cynomorium)
12. Medusa (Aurelia aurita)

13. Bodelha (Fucus vesiculosus)
14. Polvo-comum (Octopus vulgaris)
15. Choupa (Diplodus vulgaris)
16. Goraz (Pagellus bogaraveo)

17. Faneca (Trisopterus luscus)
18. Enguia (Anguilla anguilla)
19. Alface-do-mar (Ulva lactuca)

 
 

São ecossistemas cruciais nas estratégias de combate à crise climática e um dos mais importantes sumidouros de carbono azul

 
 

Mais de metade (55%) de todo carbono disponível na atmosfera é fixado por organismos que vivem no mar – o carbono azul. Estes organismos variam de bactérias e plâncton a pradarias marinhas, sapais e mangais. Os sistemas vegetados costeiros – mangais, sapais e pradarias marinhas – são os principais sumidouros de carbono azul do planeta. Ocupam menos de 1% do leito marinho, e contribuem para mais de mais de metade (50 a 70%) de todo o armazenamento de carbono no oceano.

As pradarias marinhas têm uma elevada capacidade de sequestro de carbono, com um valor médio de 830 Kg de carbono por hectare por ano (3), cerca de 30 vezes superior à das florestas terrestres (4).

Representam apenas 0.05% da biomassa das plantas terrestres, mas armazenam uma quantidade equivalente de carbono por ano, o que os coloca entre os sumidouros de carbono mais eficientes do planeta (4).

Ao contrário do sequestro e armazenamento de carbono nos ecossistemas terrestres, em que o carbono pode ficar armazenado durante décadas ou séculos, o carbono azul pode permanecer armazenado por milénios.

OA_icon-co2.png
 
 
OceanAlive_footer2.jpg
 

São o terceiro ecossistema do nosso planeta com mais valor!

As pradarias de ervas marinhas são um dos ecossistemas mais valiosos da Terra pelos serviços que nos prestam. O valor económico (capital natural) das pradarias de ervas marinhas foi avaliado em mais de 25.000€ por hectare por ano (5) pelo serviço de reciclagem de azoto, um dos elementos essenciais à produção primária e do qual depende a boa qualidade da água, pela depuração de efluentes urbanos e agrícolas azotados. Um estudo realizado na Ria Formosa conclui que cada hectare de pradarias retira da água 510 toneladas de azoto inorgânico, tendo por base a espécie Zostera noltei (6).

©Nuno Farinha

©Nuno Farinha

 

AS PRADARIAS MARINHAS ESTÃO EM DECLÍNIO MAS PODEM RECUPERAR.

As pradarias marinhas têm vindo a desaparecer devido a causas relacionadas com a ação humana e, por isso, são considerados habitats vulneráveis e em perigo de extinção (1), em declínio devido ao uso insustentável das zonas costeiras. 

Estudos indicam que estamos de momento a perder 1.5 % das ervas marinhas de todo mundo, por ano, desaparecendo o equivalente a 2 campos de futebol por hora (desde 1980) (10). 

Entre as ameaças estão: 

  1. danos diretos nas folhas e rizomas causados por técnicas de pesca destrutivas (arrasto de fundo, ganchorra, ancinho de mão e apanha com escafandro autónomo) e ancoragem desordenada;

  2. o soterramento e aumento de turbidez na coluna de água causadas por dragagens de zonas estuarinas e lagunares;

  3. contaminação da água por efluentes urbanos, industriais e agrícolas que causam eutrofização e podem atrofiar o crescimento das plantas;

  4. construção de infraestruturas no litoral como portos, marinas e viveiros;

  5. eventos extremos (tempestades, inundações, ondas de calor) associados às alterações climáticas.

 
©Nuno Farinha

©Nuno Farinha

OceanAlive_background.jpg
 

Estudos recentes mostram também que este declínio pode ser revertido, através da adoção de medidas que travem a sua degradação (7,8). A recuperação e restauro dos sistemas degradados é possível e tem elevado retorno económico (9), dado o retorno dos benefícios e serviços que as pradarias de ervas marinhas nos proporcionam.

 
OceanAlive_footer3.jpg
 

Referências:

  • 1. Cunha et al., 2011. Seagrasses in Portugal: A most endangered marine habitat. Aquatic Botany

  • 2. Unsworth RKF et al., 2018. Seagrass meadows support global fisheries production. Conservation Letters

  • 3. Fourqurean JW et al., 2012. Seagrass ecosystems as a globally significant carbon stock. Nature Geoscience 5, 505–509.

  • 4. Mcleod E. et al., 2011. A blueprint for blue carbon: toward an improved understanding of the role of vegetated coastal habitats in sequestering CO2.

  • 5. Costanza et al., 2014. Changes in the global value of ecosystem services. Global Environmental Change 26 152-158

  • 6. Alexandre et al., 2012. Inorganic nitrogen uptake kinetics and whole-plant nitrogen budget in the seagrass Zostera noltii. Journal of Experimental Marine Biology and Ecology 401 7-12      

  • 7. de los Santos, C.B. et al., 2019. Recent trend reversal for declining European seagrass meadows. Nature Communications. 10:3356.

  • 8. Sousa, A.I. et al., 2019. Blue Carbon stock in Zostera noltei meadows at Ria de Aveiro coastal lagoon (Portugal) over a decade. Scientific Reports, 9:14387.

  • 9. Oreska M.P.J. et al., 2020. The greenhouse gas offset potential from seagrass restoration. Scientific Reports, 10: 7325.

  • 10. Waycott, M. et al., 2009. Accelarating loss of seagrasses across the globe threatens coastal ecosystems. Proc. Natl. Acad. Sci. U.S.A. 106:12377-81

 
 

Download de guião sobre pradarias marinhas e alterações climáticas

 
 
 

Mais recursos disponíveis em

 
OceanAlive_footer2.jpg